Rita Santos
Cidadão-filho
A relação com os pais é uma expressão da relação que tenho comigo e com a vida, é o ponto de partida das minhas criações.
A mãe é o símbolo da vida, nutre, cuida, apoia.
O pai é o símbolo da autoridade, da estrutura e incentiva a sair ao mundo.
Biologicamente, chegamos a um ponto do nosso desenvolvimento em que já nos podemos desvincular do papel de filhos e ser responsáveis pela nossa própria vida e escolhas. Dito isto, é comum que a idade adulta nos encontre numa inconsciente e constante busca pelo amor e reconhecimento da mamã e do papá e numa fuga ao sofrimento provocado pela rejeição, pela crítica e pela ausência. Sem nos darmos conta podemos passar toda a nossa existência a projectar esta relação e as emoções a ela associada no que nos rodeia.

Por um lado já adulto e por outro profundamente imaturo, logo:
É melhor que seja o governo, como representação do pai, a dizer-me o que fazer.
E a segurança social, como representação da mãe, a cuidar-me.
Que seja o chefe a reconhecer o meu valor.
Que seja a polícia a proteger-me dos perigos do mundo.
Que seja o médico a curar-me.
Que seja o banco a gerir o meu dinheiro.
Que seja a religião a dirigir a minha moral.
Assim construímos um mundo no qual somos cidadão-filho e temos infinitos pais simbólicos que alegre e interessadamente se ocupam de nós. Amorosos pais-verdugo, sobre-protectores, asfixiantes e tóxicos que tomarão todas as decisões por nós, para o nosso-seu bem. Nós usaremos todas as estratégias para conseguir a sua atenção, valorização e recursos e evitar o castigo e a rejeição.
Na natureza, qualquer animal abandonado pelos pais e pelo clã vai acabar por morrer e isto está gravado a fogo no nosso inconsciente. Por pura sobrevivência, submetemo-nos a todas as leis, aceitamos todas as regras e negamos o mais básico sentido comum. 2020 é o começo da destruição deste frágil e incongruente mundo para que algo mais real possa nascer. Para que nos demos conta das mentiras em que escolhemos viver e mudar as nossas percepções distorcidas. Para que deixemos de procurar fora o que sempre esteve dentro. Para que recordemos que somos muito mais que seres biológicos.
Sou a minha própria mãe e o meu próprio pai.
Sou a minha própria referência.
Sou a minha própria autoridade.
Sou capaz de tomar decisões . Reconheço-me como um ser completo.
Sou a vida em todo o seu esplendor.
Rita Santos